A falta que ama
Entre areia, sol e gramao que se esquiva se dá,enquanto a falta que amaprocura alguém que não há. Está coberto de terra,forrado de esquecimento.Onde a vista mais se aferra,a dália é toda cimento. A transparência da horacorrói ângulos obscuros:cantiga que não imploranem ri, patinando muros. Já nem se escuta a poeiraque o gesto espalha no chão.A vida conta-se inteira,em letras de conclusão. Por que é que revoa à toao pensamento, na luz?E por que nunca se escoao tempo, chaga sem pus? O inseto petrificadona concha ardente do diaune o tédio do passadoa uma futura energia. No solo vira semente?Vai tudo recomeçar?É falta ou ele que senteo sonho do verbo amar?
Autor: Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
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